Felicidade é louvar, agradecer, amar e servi-Lo - Jonathan Edwards
Edwards herdou uma
controvérsia entre os eruditos: o objetivo de Deus na criação era a sua própria
glória, como sustentava a teologia Reformada, ou a felicidade do homem, como
pensam os arminianos e os deístas? Em sua Dissertation on the Endfor Which God
Created the World [Dissertação sobre o fim para o qual Deus criou o mundo],
publicada postumamente, Edwards resolveu essa questão com brilho surpreendente.
Como seu filho, Jonathan Edwards Jr., disse:
Foi dito que, como Deus
é um ser benevolente... não podia deixar de formar criaturas com o propósito de
torná-las felizes. Muitas passagens das Escrituras foram citadas em apoio a
esta opinião. Por outro lado, numerosas e bastante explícitas declarações das
Escrituras foram produzidas para provar que Deus fez todas as coisas para sua
própria glória. Edwards foi o primeiro que mostrou claramente que ambas foram o
fim último da criação... e que elas são realmente uma e a mesma coisa.
Com isso, Edwards
amarrou o seu caso, examinando o uso bíblico da palavra "glória"
(hebraico: kabod; grego, LXX e NT: doxa). Tendo declarado corretamente que
kabod etimologicamente significa "peso, grandeza, abundância" e no
uso geral transmite a ideia de "Deus em plenitude", Edwards fez a
seguinte análise do uso do termo:
As vezes é usado para
significar o que é interno, inerente, ou está na posse de alguém [ou seja, a
glória que pertence a outra pessoa]: às vezes refere-se à emanação, exposição,
ou à comunicação dessa glória interna [ou seja, a glória que aparece para
alguém] e às vezes, ao conhecimento ou à percepção dessas [comunicações],
naqueles a quem a exposição ou comunicação é feita [ou seja, a glória que é
vista, ou discernida por alguém]; ou, à expressão desse conhecimento, sentido,
ou efeito [a glória que é a alguém, por
louvor e gratidão em alegria e amor].
E a conclusão que ele
oferece, com base em ambos os textos bíblicos que falam de glória e de
glorificar dessas quatro maneiras distintas, embora ligadas, e também o
argumento analítico em torno dessa exegese, é que a glória interna e intrínseca
de Deus consiste em seu conhecimento (onisciência com sabedoria), além de sua
santidade (o amor virtuoso espontâneo, ligado ao ódio ao pecado), mais a sua
alegria (felicidade suprema sem fim) e que sua glória (sábia, santa, feliz e
amorosa) flui dele como a água de um chafariz, na espontaneidade do amor
(graça), em primeiro lugar na criação e na redenção, sendo que ambas são tão
definidas para nós a ponto de suscitar o louvor; e que, em respondermos
glorificando a Deus, dirigidos pelo Espírito Santo, Deus glorifica e satisfaz a
si mesmo, alcançando o que era seu propósito desde o início.
O fim principal do
homem, como a famosa primeira resposta do Breve Catecismo de Westminster expõe
memoravelmente, é glorificar a Deus e gozá-lo para sempre. Deus nos fez de tal
modo que em louvar, agradecer, amar e servi-lo, atingimos a nossa própria
felicidade suprema e satisfação em Deus que de outro modo não teríamos e não
poderíamos fazer. Atingimos a nossa maior alegria em Deus e em glorificá-lo
supremamente, e glorificá-lo em desfrutá-lo. Na verdade, desfrutamos mais dele
quando o glorificamos mais, e vice-versa. E a finalidade única, embora complexa
de Deus, agora na redenção como foi na criação, é a sua própria felicidade e
alegria dentro e por meio de nós. Seu grande objetivo aqui e agora é glorificar
a si mesmo mediante glorificar e ser glorificado por seres humanos racionais
que, apesar da natureza caída, chegam à fé salvadora em Jesus Cristo. Assim, a
emanação (saída) da glória divina na forma de resultados da ação criadora e
redentora de reemanaçao (retorno do fluir) da glória de Deus na forma de
devoção e celebração. E assim o objetivo de Deus para si próprio (Pai, Filho e
Espírito Santo, o "eles" que são "ele" dentro da unidade
trina), a meta que inclui a sua meta para toda a humanidade cristã, é obtido
por meio de um processo isoladamente unitário, que é contínuo e interminável em
si.
A imensidão
inimaginável desse sequenciamento recíproco, que é na verdade a finalidade para
a qual Deus criou o mundo, só pode ser indicada de forma leiga e analógica
(para usar um par de termos não-edwardeanos). Isso é feito por nós de uma
maneira normativa em Apocalipse 21, e C. S. Lewis de modo mais eficaz fez no
fim de sua história de Nárnia, A Ultima Batalha, em que as crianças foram
levadas por um acidente ferroviário à Nárnia real, que será a casa delas para
sempre. As frases-chave são estas:
Então Aslan [o leão
como Cristo] se virou para eles e disse:
"Vocês ainda não
estão tão felizes quanto eu almejei que vocês sejam... todos vocês estão (como
vocês costumavam chamar na Terra das Sombras) mortos. A temporada acabou, as
férias já começaram. O sonho acabou. Esta é a manhã".
... Nós podemos mui verdadeiramente
dizer que todos eles viveram felizes para sempre. Mas para eles era apenas o
começo da história real. Toda a vida deles neste mundo e todas as suas
aventuras em Nárnia haviam sido apenas a capa e a página de título: agora,
finalmente, eles estavam começando o Capítulo Um da Grande História que ninguém
na terra leu, que dura para sempre, em que cada capítulo é melhor que o
anterior.
Isso captura
exatamente, em termos míticos-parabólicos, o ponto que Edwards, na sua forma
mais prosaica, estava preocupado em demonstrar. Amy Plantinga Pauw o resume
assim:
Porque "o céu é um
estado progressivo", a alegria celeste dos santos, e até mesmo do Deus
trino, continuará aumentando para sempre... Os santos podem esperar uma
expansão infinita de seu conhecimento e amor de Deus, como suas capacidades são
aumentadas por aquilo que eles recebem... não há limite intrínseco à sua
alegria no céu... Como os santos continuam a aumentar em conhecimento e amor de
Deus, Deus recebe mais e mais glória. Esta reciprocidade celeste nunca cessará,
porque a glória que Deus merece é infinita, e a capacidade dos santos de
perceber a glória de Deus e louvá-lo está sempre aumentando.
Aqui está, finalmente,
como o próprio Edwards, em sua forma bastante mais séria e abstrata, resume o
assunto ("criatura" no que se segue é o crente):
E embora a emanação da
plenitude de Deus destinada na criação tenha a criatura como seu objeto, e a
criatura seja o tema da plenitude comunicada, o bem da criatura, isso não
implica necessariamente que fazendo assim Deus não fez a sua finalidade em si
mesmo. Vem a ser a mesma coisa. O apreço de Deus pelo bem da criatura, e seu
apreço por si mesmo, não é uma matéria dividida, mas ambos estão unidos num só,
como a felicidade almejada para a criatura visa a felicidade na união consigo
mesmo... Quanto maior a felicidade maior a união... E como a felicidade,
aumentará até a eternidade, a união vai se tornar [p.ex., estreitamente ligada]
cada vez mais rigorosa e perfeita; mais e mais parecido ao que existe entre
Deus Pai e o Filho, que estão tão unidos, que o seu interesse é perfeitamente
um... Que a mais perfeita união com Deus seja representada por algo infinito
muito acima de nós, e a união eterna dos santos com Deus, por algo que está
ascendendo constantemente para uma altura infinita... e que continuará assim, a
se mover por toda a eternidade.
A via de duas mãos
desse processo incessante, diz Edwards, encarna e manifesta o verdadeiro fim
para o qual Deus criou o mundo: a saber, o avanço interminável de sua glória,
em união conosco, mediante o infinito avanço da nossa, em união com ele.
Aqueles que têm em qualquer medida provado o frescor e a alegria de coração que
fluem da fé, amizade e adoração da santa Trindade (ou devo dizer o Único santo
ou o Único em três) vão adotar o pensamento de Edwards como uma resposta
completa para qualquer fantasia de que o céu cristão seria estático e
aborrecido, e olharão para a frente, para a glória aguardada com avidez cada
vez maior.
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